É esse o jogador histórico do Corinthians que ganhou um Oscar

Na noite do último domingo, o Brasil fez história no Oscar com a vitória de Ainda Estou Aqui na categoria de Melhor Filme Internacional, sendo o primeiro filme brasileiro a conquistar a estatueta.

No entanto, poucos sabem que uma obra filmada no Brasil já venceu essa categoria anteriormente: Orfeu Negro, vencedor do Oscar em 1960. E o que torna essa história ainda mais curiosa é que o protagonista do filme era ninguém menos que Breno Mello, ex-jogador do Corinthians.

A Jornada de Breno Mello: Do Futebol ao Cinema

Breno Mello nasceu em Porto Alegre e começou sua trajetória no futebol jogando pelo São José e pelo Renner, onde se destacou ao conquistar o Campeonato Gaúcho de 1954.

Seu talento o levou ao Corinthians em 1957, onde disputou quatro amistosos e marcou dois gols. Apesar disso, sua passagem pelo Timão foi breve, e logo ele seguiu para o Santos, atuando ao lado de Pelé. Posteriormente, transferiu-se para o Fluminense, onde sua vida tomou um rumo inesperado.

Durante sua passagem pelo clube carioca, Breno foi abordado por um homem desconhecido após um jogo em Bangu. Esse encontro foi decisivo para sua entrada no mundo do cinema.

O homem lhe perguntou se ele gostaria de atuar em um filme e explicou que um diretor francês, Marcel Camus, estava à procura de um protagonista para Orfeu Negro. O papel exigia um jovem negro de aparência marcante e olhar expressivo. Breno Mello, com sua postura atlética e carisma, encaixava-se perfeitamente na descrição.

Após uma série de testes, ele foi escolhido para interpretar Orfeu, o personagem principal. No entanto, sua nova carreira não foi bem recebida pelo Fluminense, que exigiu uma quantia para liberá-lo. A produção do filme aceitou pagar o valor e garantiu sua participação.

Orfeu Negro foi uma adaptação cinematográfica da peça Orfeu da Conceição, escrita por Vinicius de Moraes, que transportava a tragédia grega de Orfeu e Eurídice para as favelas cariocas. O filme teve grande repercussão internacional, conquistando não apenas o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas também a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Globo de Ouro.

Mesmo sendo protagonista de uma produção tão premiada, Breno Mello não pôde comparecer às cerimônias de premiação, já que o Fluminense não o liberou para viajar ao exterior.

Apesar de ter sido filmado no Brasil, falado em português e contar com um elenco majoritariamente brasileiro, Orfeu Negro é considerado um filme francês. Isso ocorre porque a principal produtora responsável pelo financiamento da obra foi a Dispat Films, da França. Como o Oscar permite que cada filme tenha apenas um país de origem, a obra concorreu oficialmente como produção francesa.

Curiosamente, o filme foi recebido com críticas no Brasil. Muitos consideraram sua visão do país estereotipada e simplificada. O próprio Vinicius de Moraes, autor da peça original, teria ficado insatisfeito com o resultado e abandonado uma exibição antes do fim. Apesar disso, Orfeu Negro teve um impacto duradouro, influenciando o Cinema Novo, um dos movimentos mais importantes da história do cinema brasileiro.

Após o sucesso de Orfeu Negro, Breno Mello tentou conciliar as carreiras de ator e jogador de futebol, mas sem o mesmo impacto. Atuou em clubes como Água Verde (futuro Paraná Clube) e Novo Hamburgo, enquanto também participou de outros filmes, como Os Vencidos (1963) e O Negrinho do Pastoreio (1973).

Sua carreira cinematográfica, no entanto, nunca alcançou o mesmo sucesso de sua estreia. Breno Mello faleceu em 2008, aos 77 anos, deixando um legado singular como o único jogador de futebol brasileiro a protagonizar um filme vencedor do Oscar.

A trajetória de Breno Mello é uma das histórias mais fascinantes do esporte e do cinema. Um jogador que, por acaso, se tornou estrela do cinema mundial, vivendo uma experiência única que poucos tiveram.