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Sobreviveu ao incêndio do Ninho do Urubu, foi dispensado pelo Flamengo, agora trabalha como operário

Tragédia abalou o mundo da bola e ecoa até hoje no imaginário do torcedor

Por Eric Filardi

Escudo do Flamengo em meio ao luto
Escudo do Flamengo em meio ao luto
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Cinco dos 16 sobreviventes do incêndio no Ninho do Urubu foram dispensados pelo Flamengo em janeiro de 2020: Caike Duarte Pereira da Silva, Felipe Cardoso, João Vitor Gasparin Torrezan, Naydjel Callebe Boroski Struhschein e Wendel Alves Gonçalves.

Na tragédia, 26 jovens dormiam no alojamento, e 10 perderam a vida: Athila Souza Paixão (14 anos), Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas (15), Bernardo Pisetta (14), Christian Esmério (15), Gedson Santos (14), Jorge Eduardo Santos (15), Pablo Henrique da Silva (14), Rykelmo de Souza Viana (17), Samuel Thomas Rosa (15) e Vitor Isaías (15).

Situação atual dos sobreviventes:

  • Dyogo Alves (goleiro) - Aos 21 anos, é o terceiro goleiro do time profissional do Flamengo. Renovou contrato até 2026 e foi titular no Campeonato Carioca.
  • Rayan Lucas (volante) - Aos 20 anos, atua no time sub-20 do Flamengo, mas já teve chances no profissional. Foi campeão mundial sub-20.
  • Jhonata Ventura (ex-zagueiro) - Foi o sobrevivente mais grave. Encerrando a carreira em 2023, tornou-se scout do Flamengo e trabalha diariamente no Ninho do Urubu.
  • Cauan Emanuel (atacante) - Com 20 anos, passou pelo Fortaleza (2021-2023) e Riostrense antes de chegar ao Ferroviário. Atualmente, está emprestado ao Maranguape.
  • Felipe Cardoso (meia) - Deixou o Flamengo em 2020 e passou por Red Bull Bragantino, Ibrachina FC e Santa Cruz. Em 2025, defende o Atlético-BA, com dois gols e uma assistência.
  • Wendel Alves (atacante) - Passou pelo Corinthians (2021) e Internacional (2022-2024). Em 2024, foi para o Goiás sub-20, mas atualmente está sem clube.
  • Samuel Costa (atacante) - Aos 22 anos, passou por Itapirense, Guarulhos e Azuriz. Em 2025, voltou ao Azuriz, onde disputou dois jogos.
  • Pablo Ruan (atacante) - Aos 22 anos, está no Londrina desde 2023. Passou por Palmeiras (2019), Atlético-MG (2021-2022) e se destaca no Paraná.
  • Caíke Silva (meia) - Disputou a Copinha pelo Barra-SC. Anteriormente, passou por XV de Piracicaba.
  • Filipe Chrysman (atacante) - Deixou o Flamengo em 2021. Jogou pelo Guarani, Serra Branca e São Bento. Em 2024, atuou pelo Central-PE e Araruama, mas agora está sem clube.
  • Kayke Campos (zagueiro) - Atua nos Emirados Árabes, tendo passado por Al Ahli, Al-Bataeh, Hatta Club e atualmente defende o Khorfakkan.
  • Jean Sales (atacante) - Aos 21 anos, fez carreira em Portugal, passando por Alverca e atualmente jogando pelo Santa Clara B.
  • Kennyd Lucas (atacante) - Passou por Corinthians, Bahia, Cuiabá e Goiás. Em 2025, assinou com o Nova Iguaçu.
  • Naydjel Callebe (ex-meia) - Não conseguiu seguir no futebol profissional. Estuda educação física e joga futsal.
  • João Vitor Gasparin Torrezan (meia) - Passou por Coritiba, Paraná Clube, Joinville e clubes amadores do Paraná.

Um dos sobreviventes se tornou operário

Gabriel Castro (ex-lateral-direito) – Aos 21 anos, disputa competições amadoras em Franca (SP) e atua ao lado do pai em uma indústria de bolsas. O ex-lateral não oculta que a noite de 8 de fevereiro de 2019 transformou completamente seu percurso. "Mexeu bastante com todos nós, interrompeu sonhos. Parecia que nada daquilo era real, que não tínhamos perdido os nossos amigos. Quando alguém fala de Flamengo comigo, o que vem à mente é aquela tragédia. Ficou a tristeza", relatou Gabriel

Atualmente, Gabriel reside em Franca, junto à família, e atua ao lado do pai em uma manufatura de bolsas voltadas ao público feminino. O futebol, entretanto, ainda faz parte de sua rotina: ele compete no Campeonato Varzeano, torneio amador promovido pela administração municipal.

Na ocasião, ele estava em fase de avaliação no Rubro-Negro e pernoitava no centro de treinamento quando o alojamento foi tomado pelo incêndio. Foi um dos 16 garotos que conseguiram sobreviver — enquanto outros 10 não resistiram. Passou cerca de seis meses no Flamengo. Depois da tragédia, permaneceu no clube por mais três meses, até sua saída compulsória, sob a justificativa de que, naquele período, a lateral direita não era uma posição com escassez de atletas.

Deixou o Rio de Janeiro e seguiu para Campinas, onde se juntou à Ponte Preta. Na Macaca, permaneceu por dois anos e meio, período impactado pela pandemia da covid-19. "Foi muito tempo sem treinos e jogos. Fui dispensado porque precisavam diminuir o grupo", explicou. Gabriel aguardou uma nova chance no futebol, mas acabou optando por um novo rumo: "Houve a saída da Ponte e a pandemia atrapalhou algumas coisas, também para o surgimento de uma nova chance. Neste cenário, decidi não seguir mais esse caminho. Tive o apoio da minha família, mas, claro, se aparecesse outra chance, eu voltaria". Os convites para atuar ainda não são como esperava, mas continuam surgindo na região onde vive: "O pessoal chama bastante e não tem coisa melhor do que jogar futebol".

Distante dos treinamentos diários e das competições profissionais, sua rotina agora consiste em chegar à fábrica às 6h e sair às 18h. À noite, quando não está na academia, reencontra a bola nos jogos informais com os amigos.


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